não estou falando
de colibris
nem de lírios
nem de abismos
não me fascina
o brilho
de vidro moído
de musas, lluvias e divas
o meu pôquer com a língua
não tem ás nem asas
o que escrevo
não voa
sangra
é mais suicídio
do que poesia
não rimo: desatino.
ALMA LISA (Allan Vidigal)
Explicar a poesia:
Empreitada tão vã, tão fútil,
tão irmã do desespero
quanto olhar no olho uma doze,
encarar sua órbita vazia
pra ver quem pisca primeiro.
BANDINI E A BOAZUDA (Vlado Lima)
1ª PARTE (ALVO & MIRA)
aquilo era um cu
e que cu!
cu de potranca parideira preparada
cu de cachorra de baile
cu de quenga
112 cm de rabo empinado embalado em calça jeans
um Garrincha nos quadris
um tamborim no toc-toc dos tamancos
obelisco bom de beliscar
tronco de baobá
oba! Bandini em mim ulula
a câmera do metrô viu
quando ela saiu do ultimo vagão na estação Anhangabau
UUUUU!
a Sete de Abril se abriu num rio de baba
boys crentes camelôs: aleluia gostosa!
psiu! palmas pra que te quero
qué pipoca ou qué pô pica?
2ª PARTE (PERSEGUIÇÃO & FUGA)
entrou na Telefonica
comprou um cartão de 40 unidades
e ligou pra amiga da Vila Iório
(um cu assim
e Jesus tornaria ao mundo das carnes só pra uma
punhetinha básica)
(...)
desceu a Dom José
virou a direita na Barão
e seguiu até o Teatro Municipal
(um cu assim
e os nerds de Oklahoma City descobririam
a cura do câncer)
(...)
Cruzou o Viaduto do Chá
passou pela Praça Patriarca
e flertou com os manequins da Rua Direita
(um cu assim
e paz na terra aos homens de boa
vontade)
(...)
na Praça da Sé pegou um ônibus
encostou a cabeça na janela
e dormiu até a Cidade Patriarca
(...)
eu seguiria aquele cu até o sertão do Curdistão
BEM ME QUERO (Lúcia Gönczy)
Nada de miquinho amestrado.
Homem, comigo hoje, só no laço;
E nem me venha com esse papo de aranha,
brucutu de meia pataca
Pois se me sinto subjugada, viro louca:-
vou de princesa a rainha do cangaço.
Uma das vantagens do sexo frágil,
é parecer, segundo falsa análise,
aquele que tudo tolera. Já era!
-Não feminista ou cabra macho; feminina, apenas
Sê preciso, rodo a baiana - desço do salto
e muito me encanto por flores de plástico.
BLADE RUNNER, O FILME (Izacyl Guimarães Ferreira)
Em lugar algum do meu corpo
se vê, sequer sob o cabelo
esparso, branco, transparente.
Ou nas secas hidrografias
de minhas palmas, vagos rios
e afluentes que vão perder-se
nos estuários de meus dedos.
Perfurado por aparelhos
que filmam, filtram, avaliam
ossos, fluidos, alguma alma,
meu corpo esconde cifras, códigos
de barra. Não se lê em parte
alguma os números, o prazo
de validade, qual a data
que marcará meu epitáfio.
Mas carrego comigo a chave
da fechadura e do desfecho.
E meu desejo replicante
de uma infinita duração
se desfeito sob o número
de fábrica afinal exposto:
o fio da navalha corre,
vencida a pressa da resposta.
Salvando amor e tempo eu tento
esquecer que não há refúgio,
que não há fuga entre relógios
e o pó fugaz de que sou feito.
BUQUÊS DE ROSAS VERMELHAS (Allan Vidigal)
Olha a mulher que se acha feia.
Em casa, sozinha
numa noite de sexta-feira.
Uma taça de vinho
(é noite de sexta-feira).
No banheiro,
defronte o espelho,
a mulher que se acha feia
fita-se de frente e de lado,
brinda com seu reflexo
e sonha ver-se linda.
E sonha ver-se amada.
A mulher que se acha feia
reclinada na banheira.
Um livro e uma taça de vinho.
E o sonhar em segredo
com toques de dedos
que a conheçam tão bem
quanto ela se conhece.
Um breve tremer de pernas nuas.
Um gemido. Uma lágrima. Duas.
(a mulher que se acha feia, estranhamente,
chora, quando goza, o companheiro inexistente).
Gilette e uma taça de vinho.
A mulher que se acha feia,
com gestos bem calculados,
esculpe com todo o cuidado
os contornos dos pelos do púbis
que ninguém irá tocar.
E imagina ver no fluxo
dos jatos da jacuzzi,
surgindo dos pulsos,
buquês de rosas vermelhas
que ninguém jamais lhe deu.
DITADO DO FEIRANTE (Diogo Mizael)
cada barraca
que chuto
o pau arma
uma cilada
EIS AQUI UMA LISTA DE TERRORES (André de Castro)
Eis aqui uma lista de terrores:
As músicas de amor dos opressores,
A voz de uma abortada atrás da porta,
Eterna enquanto vive a mãe... mas morta.
A rábica mordida de uma guerra
A água vermelha aguando a calma terra
A torpe tirania da alegria
Ainda alimentando a hipocrisia
A fome inexplicável da ignorância
O muro intransponível da arrogância
A técnica mais clean e complicada
Para deixar a carne destroçada
A vida que se vive sem viver
Até a hora triste de morrer...
Mas o maior terror que já senti
Foi ver que todos eles são daqui...
EXORCISMO (Flá Perez)
Dentro dessa cabeça,
demônios índigo blues
pululam e fazem a festa
- Sodoma -
ataram a boa moça
( que um dia fui)
- modorra! -
abriram a fenda
da minha testa.
Possuída,
não os condeno,
nem temo,
pois anjos efêmeros,
roqueiros e suicidas
recém libertos,
também entraram
pela fresta distraída.
E a Legião agora está completa.
HELENA DESTRÓIER (José Antônio Cavalcanti)
A Vênus do telemarketing
sai apressada da sala no sexto
andar
de leveza e vulgaridade
acesa.
Sem medo,
largo a longa fila de emprego,
perco de vista a entrevista
e me atrevo um Páris.
O coração sai em disparada.
A perco de vista
entre a sala 610 e a escada.
O ascensor me escapa.
(Bem que li no horóscopo
que esse dia não daria em nada).
Desafio os deuses e a idade,
recordista de velocidade
mas chego tarde à Ítaca.
Vejo a Vênus de crachá
girar a roleta do adeus.
A Vênus de tênis e fones
some no meio da multidão,
essa maldita invenção de Baudelaire.
Eu, Heitor hilário e exausto,
acabo arrastado por um carro
no centro do estacionamento
Aquiles Park.
Um transeunte afirmou convicto:
o morto parecia drogado.
IDEIA ADVERSA (Giovani Iemini)
reflita:
a ideia adversa
que te irrita
é só o que você não aceita
digo: aceita
verá que a briga aflita
é tolice controversa
se tolerar facilita
MAL DO SÉCULO (Cesar Veneziani)
Tosse.
Tosse.
Toooooooosse...
Escarro amarelo denso
e eu penso:
"Só porque escreve
toscos versos
se atreve
a sonhar tuberculoso?
Pretensioso!
O século é outro,
o charme é outro...
Deste século, o mal
é o sarro virtual.
Cospe o escarro,
tosse e esquece."
MANTRA-ME (Dani.'. Maiolo)
Em meu sono
Viagem de poucos
Desliza-me os dedos
Mantra-me o corpo
Um presente
De Shiva uma Lótus
E Ópio meu aroma
Tantra-me de todo
Canta-me
Atente-me
Cheire-me
Lamba-me
Mantra-me
Tantra-me
A MÃO DE PICASSO, 1 (Romério Rômulo Valadares)
a fala do meu corpo em seu mormaço
se fez medir no pulso reticente
ao me fazer mostrar cada pedaço
quanto eu devo à treva, um penitente
por me saber cavalo e cão, bagaço
da minha mão caída de dormente?
se as estradas trovejam por meus guias
cavalo e cão e boi, estardalhaços
todos os ossos comidos de atrofias
só vão arder mordidos e devassos
num erro extasiado de Picasso
peguei na sua mão tardiamente
o mundo é o rastro final de um estilhaço.
OS ESCOLHIDOS (Betty Vidigal)
Há muito permanecer vivo deixou de ser uma
[necessidade.
Sem motivo de crença ou descrença
- Deixemos estar.
Rompidos todos os elos.
Não recuperamos o perdido tempo.
Embalados na música,
embalados,
que chamado nos leva para o fundo?
Por que permitimos que nossos segundos sejam gastos
[nisto que sabemos irrecuperável,
se para nós era importantepermanecer?
Ou ser.
Do outro lado há.
Eu sei que caminho para o outro lado,
onde todos estaremos mais que sós.
Sós e sem;
é a solidão pior.
Pois estar com é algum modo já de pertencer.
Há um feitiço que nos leva para o fundo,
embalados na música,
embalados.
Nós somos os escolhidos
para assistir ao fim do mundo
MUDO BLUES (Jorge Mendes)
que destino estúpido
o meu
sentir tudo
de todas
as maneiras
e de qualquer jeito
logo eu
que nunca desejei
ser o rei dos macacos
ou herói dos anfíbios
logo eu
que paro na esquina
de óculos escuros
bebendo pinga
com esse azul cortante
doendo calado
dentro do peito
logo eu
que beijo a boca fria
do inimigo
que amo meninas horríveis
que me mastigam
cheias de prazer e horror
logo eu
que desconheço
o profundo infinito
e que vivo
sozinho, inverossímil
no vazio breu
do meu mudo blues.
NEON (Solange Mazzeto)
com a boca impressa
em papel de segunda
e os lábios dissimulados
criados pelo bisturi
a criatura
luzia em neon
a brevidade
e o
ínfimo
NIBELUNGO (Dom Ramon)
O porquê de escrever? Não, nada memorial, conto vinte e poucos anos ainda. São esboços somente, de muitos e muitos motivos;
Teológicas ignorâncias de Deus e as querelas vaidosas e catedráticas dos homens: Erudição, violência, tradição e rebeldia; quatro nomes sagrados. E mais e mais e mais, barulho, caos, ideologias negadas afirmadas não vividas, a sistemática: o marasmo triunfalista dos anos noventa, o delírio tecnológico do novo milênio, niilismo Nirvana em transcendentalismos Post-rock e rock, Funk carioca e forró universitário, É o Tchan!, rock colorido, Lady Gaga, Linkin Park. Al Qaeda na Internet. Aquecimento Global e Harry Potter na mesma notícia de jornal. Minha devoção ao Cyberpunk e à literatura do século XIX. Eu vi o fogo de Bagdá na TV, e as torres caindo. Tomei Coca, comendo Big Mac.
E vi que tudo era bom.
E contra o maior de todos os demônios, no retiro imanado de um quarto fechado; distante dos deuses do agora - Mammom, sua consorte Xiva - pensamentos imediatos, mesclados hidrocodona e nicotina, luz artificial, constipação intestinal e rabugem, ânsia vomitiva e dores musculares. Escrever e fazer letras incompreensíveis, inutilmente, enquanto tudo cai e termina, e piora, e quebra; e com fins de quê? Confins de nada.
Tão assim, nibelungo. Nota dissertativa.
Não, sem mais. Desconsidere.
OBSEDIADA (Flá Perez)
Tenho labirintos sombrios
onde muitos pereceram.
Cadáveres falam comigo,
fantasmas que não morreram.
Pareço domesticada
mas dentro, há florestas
repletas
de animais selvagens,
bailes, festas
porres e sacanagens.
Minha alma sem pena
tem inúmeras portas e janelas.
Vais descobrir
que não conheces todas elas.
A PALAVRA PUTA (Carlos Eduardo Ferreira de Oliveira)
Quando em bocas quaisquer és tão devassa.
Latente por sabê-la popular
O brilho que reluz por toda praça
Da prata que te cobre mais vulgar.
A forma de saber que tu rechaças
Palavra de morrer e de matar
O som cava sentido e louva a graça
Mordaças vão calando o verbo amar.
Descendo junto às trevas monta guarda
Na música presente que resulta
Não sabes quando travas porque tardas
Na virtude que trai que te refuta,
A palavra sem pai vive bastarda
Resguarda na pureza feito puta.
PLANO PARA O ACASO (CASO ACONTEÇA) (Benê Dito Deíta)
Servirei-me de
Fatias fumegantes
E frescas da manhã.
Darei-me à sombra real
Dos contornos do Sol.
Deixarei-me sob árvores
Na arrogância do meio do dia.
E, sem capa,
Ou guarda-chuva,
Saberei-me entre águas sedentas:
Tarde, mulher intempestiva
De verão.
POESIA, 5 (Romério Rômulo Valadares)
há poetas que cozinham
noite e dia
na suave oficina da poesia
eu cozinho a poesia
chifre e rabo
na dura oficina do diabo.
POP-CÓPIA (Jorge Mendes)
tantos kerouacs
de araque
tantas cópias
de bukowski
tantos beatniks
dando chiliques
tantos gênios
irascíveis
tantos leminskis
de esquinas
tantos videomakers
narcisos
tantos avatares
de cadáveres
tantos isso e aquilo
tanto nada
tanto tudo
tanto não ser
que fico mudo
que deixo de lado
que quer saber
já encheu
o saco.
O PRISIONEIRO (Izacyl Guimarães Ferreira)
A Convenção de Genebra
me protege se não morro,
se não corro, se eu me entrego.
A Convenção de Genebra
me defende do perigo
no que digo e silencio.
A Convenção dita as regras
A Convenção de Genebra
alivia minha fome
se falo claro meu nome,
declaro número, posto
e data de nascimento
que confira com meu rosto.
À Convenção nada nego.
A Convenção de Genebra
me garante se eu não fujo
durante esse jogo sujo.
A Convenção me dá trégua.
Mas se outra força me obriga
à sujeição inimiga,
mas se a impostura me abala
e falseia minha fala,
mas se outra dor me devora,
quem me chora?
Que tratado se celebra?
Que lei de paz ou de guerra,
que estatuto sobre a Terra,
se essa Convenção se quebra?
PORRADAS DO TEMPO (Jurema Aprile)
Não há amor maior que ouvir
As canções esquecidas no ralo do tempo
Os versos festejados e depois proibidos
Repudiados, apartados para bem longe das cicatrizes
Não há amor mais verdadeiro,
o que restou daquela loucura
encarnada em paixões
Embalada nas canções. Velhas.
Esse é o amor que ovulou e secou na curva do esquecimento
Sem encomenda.
Quase à queima-roupa.
Ouvir as mesmas canções
Velhas
Atreladas em tanta alegria
Secas de paixão
Depuradas, foscas
Queimadas, zoadas
No apito profundo do trem que não há mais.
Amor maior não há
Do que esse que cantou, levou, passou.
Decantou.
Ficam só duas coisas meio assim, de poesia.
Uma persona de canções
que emerge do ato de ouvi-las
Inesperadamente.
Um quê de sentimento subindo pelo ladrão
como nome de música que
mesmo em pedaços
ainda é canção.
"QUANDO EU MORRER AMANHÃ" (Romério Rômulo Valadares)
(por uma crônica de Luis Nassif)
quando eu morrer amanhã, não interrogueda só devassidão dos meus ofícios
eu deixo um girassol, como Van Gogh
e um afro-samba eterno de Vinícius
de Caravaggio eu largo essa madona
a recorrer dos rasgos e artifícios
de Scliar, a paisagem da intentona
de Baudelaire, as bendições e os vícios
ainda fica Zé Limeira no cordel
de Cabral deixo um galo e a madrugada
tecida nas texturas de um bordel
onde Bandeira descobriu-se em nada
de Augusto dos Anjos deixo a trilha
das dores retalhadas numa zona
de um soneto. deixo a luz que brilha
num gol fundamental de Maradona
se assim nos entendermos, volto ao jogo
e trago os meus cavalos e o meu guia
numa cidade escaldada em fogo
onde só queima o extrato da poesia.
quando eu morrer amanhã, deixe o meu vôo
que eu, de mim, jamais morro e perdôo.
QUERO (UTOPIC WILT) 93.'. (Dani.'. Maiolo)
Quero um beijo
Forte, apertado
Na bochecha
No lábio, fácil
Quero dedicatória
Sincera
Quimera
Quero um afago
No ego?
Não! Este é cego
Quero infinda carícia
De quem de coração
Dedica
Indica
Caminho de Shiva
Amor puro
Também impuro
E ódio, deixo
Não mais me queixo
Por vezes, extrapolo
Solto o tal verbo
Mas quero que fique
E bem claro
Quero um beijo
De amor mais caro
Um diamante raro
Fraterno ou apaixonado
Espalhando ópio
E pétalas de lótus
Numa embriaguez
Que nada material
Poderia tornar banal
O pranto só sai
Quando a dor adentra
Está, vai ficando lenta
E a deuses minha oferenda
RAPAZ, QUAL É O SEU PROBLEMA? (José Antônio Cavalcanti)
Não há respostas.
Meu amor é um míssil.
Secreta ogiva segreda
inaudíveis palavras de amor.
Infelizmente
você não aciona o controle remoto.
Disparo meu último foguete.
Aciono o pavio,
porém você não detona.
Então, amor, afundo
e não volto à tona.
REM (RAPID EYE MOVEMENT) (Leo Lobos)
Tradução: Geruza Zelnys de Almeida
PAISAGEM - MIRAGEM
Ao escritor britânico
Artur C. Clarke
in memoriam
As ovelhas que pastam distante são chacais Artur C. Clarke
in memoriam
um trem
estremece a cidade
e os anjos do cemitério choram pó
As palavras são portas que abrem e fecham suas asas
as palavras são múltiplas e contraditórias
e possuem o ritmo do trote de um cavalo na campina
Um dia vem depois de outro dia
e para mim
um dia nunca é um dia qualquer
são estas as responsabilidades do ser
em uma paisagem deserta de humanidade
SONHO TENAZ
Ao escritor chileno
Roberto Bolaño
in memoriam
Um diário descontínuo Roberto Bolaño
in memoriam
que abre e fecha
com uma orquestra que acompanha
poesia
vertiginosa e sincopada
comovedor
romântico
Rimbaud em fuga perpétua
E já sabes como és
Cesaréa disse uma vez
para além do ano 2600
queimando as mãos e os pés
por cada poema
exalado
O que há por detrás?
PARALISIA DO SONHO
"Pequeñas motas de luz etéreas
burbujas diminutas pecas en
la lente externa del ojo"
Ray Bradbury
Nunca sinto que sou eu quem faz arte burbujas diminutas pecas en
la lente externa del ojo"
Ray Bradbury
Não sei de onde vêm minhas idéias
Eu só apareço para o trabalho
E sigo minhas ordens
RAPID EYE MOVEMENT
"No importa cómo se ponga la pintura,
mientras que algo sea dicho"
Jackson Pollock
Viveram lendo mientras que algo sea dicho"
Jackson Pollock
Escrevendo
Rezando
Muito além do monólogo interior
Muito além da morte
TEMOR
"La mejor parte es sentirse vivo pintando
y la peor es necesitar hacer pinturas
para sentirse vivo"
Geoffrey Lawrence
Reverência emocionada y la peor es necesitar hacer pinturas
para sentirse vivo"
Geoffrey Lawrence
quando tudo
deixa
de
importar
quando tudo está escuro
quando tudo está perdido
Que a musa te toque com seus
dedos as costas
e te empurre ao caminho
Que a frieza das cidades
que a rosa do nada
que a lama imóvel
que a areia movediça do deserto
não apaguem a tristeza da tinta
que há de alcançar a água
E seja ar movido por lábios
uma
vez
mais
SERÁNUS (Isadora Krieger)
mas era uma arcádia tão fechada
mas tão fechada que de tão fechada
consentiram apenas dois membros,
membro Medeiros e Albuquerque membro,
e o ritual dos dois era tão exclusivo
mas tão exclusivo que de tão exclusivo
membro Medeiros e Albuquerque membro
não acreditaram quando um vira-lata
adentrou o recinto, mas o vira-lata era
tão molambento mas tão molambento que
de tão molambento no ritual logo se fez
presente, para o desespero do membro
Medeiros e Albuquerque membro que não mais
puderam tampar os olhos com seus emblemas,
oh! oh! mas existe um vira-lata entre nós Medeiros!
oh! oh! e salve-se quem puder Albuquerque!
oh! oh! mas o vira-lata levantou a pata Medeiros!
oh! oh! e o vira-lata vai mijar Albuquerque!
oh! oh! mas o vira-lata mijou no absinto Medeiros!
oh! oh! e o vira-lata nos deu as costas Albuquerque!
...........já lá fora a Maria que desconhecia a palavra
metáfora aconchegou o vira-lata no colo e lhe perguntou:
- fio, que risada larga é essa no teu beiço,
por Acaso robasse do céu a lua crescente?
SIBILA (Ricardo Ruiz)
Sonho subverter com suavidade
A solenidade da sua saia.
Saçaricar sob a superfície
A sinuosa silhueta soberana.
Sussurrar um soneto em segredo,
Sopro sonoro, sideral.
Sentir suar, suculenta, a sarracena
Cedendo, o sumo da seiva ao centauro.
A sensualidade cerca o cenário
Um sabor de sândalo circula
A saliva semeia, sorvendo o solo.
A Ceia Celestial é sagrada.
Ceres celebra a cerimônia.
Samsara, na sequência, sorri.
TAKES (Diogo Mizael)
cena1
namorada parada na parada de taipas
cena2
30 minutos depois
cena3
o namorado chega com um buquê de rosas flácidas
nas mãos
cena4
tapa
cena5
abafa
cena6
pisoteada
cena7
a rosa é uma rosa é uma rosa
VAZIO (Benê Dito Deíta)
Que corra
Um rio
A alargar
O leito
Onde repouso.
Desencrespe
Meus veios
Secos.
E que
Encontre
A calmaria
De um lago.
VOU ESCAVAR (Benê Dito Deíta)
Sujar unhas
Da terra de meus
Sítios: arqueologia
De sobras reais,
Soprar a terra:
Adorno pueril
De entranhas que
Sangram ainda,
Cheirar fétidos
Rios profundos
Correndo amarelos:
Resíduos pulsantes,
Desbastar as crostas
De disfarces cozidos
E restar-me crueza
Aos seus olhos nus.
O que lhe sobrará
Do nosso amor?
Desbastar pós
Que desenham
Linhas barrocas
Sobre a busca.