P:P-P

Palavra-Porrada é um ezine mensal com textos que só têm uma coisa
em comum: teor zero de açúcar.

Os textos-porradas não têm que ser agressivos. Não têm que ser
violentos. Não têm que ser grosseiros (aqui tem até poema de amor,
mas sem rima de "coração" com "paixão").

A participação é livre e recebemos material até o último domingo
do mês anterior a cada edição. As instruções para envio estão na
guia "Dê Porrada!". Claro que não dá pra publicar tudo o que
chega. Mas a gente lê tudo o que recebe e escolhe cerca de 30
de cada vez.


Este XIV Round traz André de Castro, Benê Dito Deíta, Betty Vidigal, Carlos Eduardo Ferreira de Oliveira, Cesar Veneziani, Dani.'. Maiolo, Diogo Mizael, Dom Ramon, Flá Perez, Giovani Iemini, Isadora Krieger, Izacyl Guimarães Ferreira, Jorge Mendes, José Antonio Cavalcanti, Jurema Aprile, Leo Lobos, Ricardo Ruiz, Romério Rômulo Valadares, Solange Mazzeto e Vlado Lima, além dos responsáveis pela bagunça, Lúcia Gönczy e Allan Vidigal.


Fomos assunto do programa Prosa & Verso da Radio Senado. Dá pra
baixar aqui.

11 de nov. de 2010

P:P-P, VIII Round

A ARTE DE COMER ALGUÉM - VOLUME 1 (Vlado Lima)

xxxxxxxxxdúzias de dálias
xxxxxxxxxavenidas de margaridas
xxxxxxxxxe um bando de pandas Lionella
xxxxxxxxxvinho
xxxxxxxxxvela
(aquele) versinho do Vinícius
xxxxxxxxxe a voz de Billie na
xxxxxxxxxvitrola
xxxxxxxxx(...)

xxxxxxxxxem último caso digo que
xxxxxxxxxxxxxxxxxxcaso
xxxxxxxxx
xxxxxxxxx(.)

xxxxxxxxxxfinalmente
xxxxxxxxxxdepois de comer você
xxxxxxxxxxescalo o Evereste por uma guirlanda de grão de bico
xxxxxxxxxxe no topo do topete do Tibete
xxxxxxxxxxcom meu indicador roçando o ânus de Deus
xxxxxxxxxxfumo um cigarro
xxxxxxxxxxe grito: Wando sou eu!


ABORTO TARDIO (Flá Perez)

Pobres criaturas impotentes
que cortam em pedaços nossas filhas
e jogam displicentemente aos cães:

malditas sejam suas mães!


ACICATE (Igor Buys)

Tantos almejaram e com tal sanha nos ver separados e feridos;
Tantos tramaram e murmurejaram, sem rostos e sem vozes,
Por entre frestas e canalhetas, como maus espíritos e ratazanas!
Agora, por certo, todos esses se rejubilam em êxtase,
Por certo uivam, felizes e galopantes,
Sob o mármore lunar que os observa.

Pois bem: eu só preciso de tempo.
De tempo e da pecúnia mui metódica
E castamente reservada, acumulada e consagrada - à vingança!
Eu só preciso de nomes e endereços,
Comprados ou esfolados de sob línguas mancomunadas e peçonhentas.

Sim, quem com a língua apunhala da espada será bainha
O corpo flácido, a alma entregue aos cães do inferno!

Encontrá-los-ei e que me guie o acicate viajante o Deus da vingança,
Aquele mesmo para quem o salmista semítico louvara cantos,
Dançando, ainda, ao som de instrumentos, seus versos rubros!

Eis a minha sina e redenção: o aço, o fio, o fogo silenciado
E o manto da noite com a pantera humana mercenária,
Cega entre as sombras, como mascote!

Hoje, entre mim e ti há um halo: a memória da ternura
E a ternura da memória represando o tempo;
Tudo o que um dia foi sonho, sorrisos e suspiros,
Versos suavemente sussurrados aos ouvidos,
Silêncios sinalizados, saudades, mil segredos,
Tanta afeição, tanto desejo... Soçobrando.

E é em nome desse arco estilhaçado que te peço:
Não abras os jornais, tampouco os ouvidinhos no dia em que eu banhar
De gemidos escarlates e outras babas as minhas luvas negras e precisas!


AMARELOS (Cesar Veneziani)

Que berrantes amarelos do Vicente!
Antes fosse do Van Gogh, o tal pintor...
Não do quadro, o amarelo é do seu dente
Que o fumo transformou naquela cor.

No seu rosto, tão marcado, diferente,
Que parece uma expressão de pura dor,
Tem contornos esculpidos a aguardente
Que, sem vida, nem é paz nem é horror.

Quando fala, nem saudoso ou revoltado,
Pelas marcas do destino em sua tez,
Traz na boca um sorrir dissimulado:

Fiz só coisas que se quer mas não se fez:
Fui devasso, tanto amei e fui amado,
E faria tudo isso outra vez!


AUTOPSICOFAGIA (Hernany Tafuri)

O poeta deixou de ser há tempos!
Descobriu que fingir era coisa
de ator e, como dizem que artista
ou é viado ou é sustentado pelos
pais, foi aprovado em concurso público
e agora é um burocrata chato pra caralho.

E os que leem o que escrevera
suspiram e dizem: "Por que parou
parou por quê?" O ex-poeta responde
com palavrões pelo orgulho de nunca ter
sido compositor de axé!

E assim aos canalhas de sua roda
diz que está satisfeito mas no fundo
sabe que um girozinho na catraca não
faz mal a ninguém - ainda mais quando
o que o tenta vem do coração!


BIO-GRAFIA (Lúcia Gönczy)

da sarjeta ao cosmos
pragmática sem anestésicos
verbais
eis que insurge contrariando
modismos
aquela que seria e não é
a causa de bocas e restos
vomitando anarquias
escandalizando senhoras
nas janelas.
entretanto, se vale da avaria
com que mede-se o dano:
de vir a este mundo, não a passeio,
mas escancarando.


CANINA-MENTE (Claudio Macagi)

Perpasso tempos
Transgrido horários
Corro por campos descampados
Desconexos verdes secos
Pedregulhos macios
Crateras planas
Homens tortos
Pessoas uniformes
Cheias de vazios
Tropeçantes malabaristas
Vegetarianos devoradores de carne
Inconseqüentes precavidos
Medrosos audazes
Intrepidamente covardes
Cães que não ladram
Mas que escondem no fundo de seus quintais
Ossos humanos enterrados


CÃO DANADO (Dom Ramon)

Entre uma baforada e outra trocava um dedo de prosa com certos amigos do serviço. Ritmo cansado de um dia corrido e cansado. Gente cansada, assuntos cansados.

Só o Diabo sabe o quanto um tabaco é bom pra relaxar. Gosto de tragadas rápidas trocando os dedos, deixando a fumaça sair naturalmente pela boca. Uma leve batidinha no cigarro pra puxar a fumaça, um soprinho suave: A fumaça vai levantando, fluando pela boca...

Rua suja, gente suja, mundo sujo.

De Deus ao cunilingue, assuntos banais. Gente passando nas ruas. Vida de subúrbio, vida tacanha. Pé na rua, baforada, conversa fiada, baforada, olhar a gente suja, baforada, pé na rua, baforada.

Só o Diabo sabe o quanto é bom uma baforada de tabaco...

Fitando bem esses sujeitos, novatos nessa vida bandida, nessa vida ralada, vida vivida, penso comigo. Sinceramente. Meu velho; estamos no mesmo barco furado.

E baforada, cão danado, e baforada...


CELOFÂNICA (Rosa Cardoso)

Meus dedos cansados
Deslizam
Cordas imaginadas
Pendem sobre abismos

Tensas

Dedilho com cuidado
Velocidade de dobra
Desfolho sonhos apressados

Penso catecismos

Conselhos didáticos
Vagueiam pelas cercas
Em voos celofânicos

Tudo vão

Recolho as asas
Imensas dentro do alambrado


COMA (Rogerio Santos)

na
xxxxxxxxxxxalma
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxum
dano
xxxxxxxxxxxxno
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxcrânio
um
xxxxxxxxxxxdreno
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxna
mente
xxxxxxxxxxxxum
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxplano
um
xxxxxxxxxxxleve
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxaceno
moeda
xxxxxxxxxxxcomo
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxpoema
fono
xxxxxxxxxxfonema
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxpomo
:
xxxxxxxxxxpoema
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxpleno


DEBOCHE (Celso Mendes)

Meu docinho,
como pensas continuar a me enganares
com teu olhar meigo de mel
(olhar Gato-de-botas do Shrek...)
se tua xereca depilada já conheço
bem como a voluptuosa fome de falo
em tua boca que quer ser santa?
Desencanta, Baby!
Esqueces que tuas tatuagens já nada me segredam
e que as bobagens que dizes já sei de cor?
Conheço todo teu contorno
e teus poucos pentelhos
refletidos em espelhos de quarto de motel.
Não queira convencer-me
que sou cordeiro mal,
conheço bem tua aura
de santa de bordel.


DO SILÊNCIO DOS POETAS (Fernando Freire)

o poema
recolhe-se
a escuridão
das frestas
enquanto
palavras perambulam
pela cerâmica fria
despedaçam-se
contra a louça suja
acumulada na pia
nem Beethoven
e sua
7ª. sinfonia
nem a eternidade
e sua
falsa homilia
apenas palavras
e silêncio
velas sem ventania
entregues ao sabor
da calmaria
palavras
sem morada ou teto
sem significado abstrato
ou concreto
traídas no horto
sedentas de rumo
saudosas de porto
em busca
de um poema
seja qual for
a métrica
ou o tema
não precisa
ser elegia
ou soneto
eu juro
eu prometo
pode ser
em verso livre
como a
poesia que vive
na mansão
e na rua
pode falar do sol
pode falar da lua
da minha dor
ou da tua
não precisa
ser poema chique
quero apenas
que chegue
e fique


ESCRITOR (Paulo Gomes)

Tem dia que eu queria ser escritor,
escritor de verdade,
e escrever a história do mendigo
que vejo todo dia e sua casa de papelão,
da prostituta que muda de lingerie
mas não de postura,
do meu chefe que faz a colega ficar de joelhos,
depois se ajoelha,
e finge que reza.

Sobre o aposentado
que vai todo dia no banco
só para sair de casa,
sobre o estagiário
que acha que mudará o mundo,
sobre o ponteiro que luta
constantemente com o tempo,
sobre minha gata cega de um olho
e suas sete vidas.

Quem sabe escrever como J. G. de Araújo Jorge,
outros como Drummond,
alguns como Nietzsche
e ultimamente Bukowski.

Tem dia que eu queria ser escritor,
escritor de verdade,
e escrever sobre as sujeiras
que escondo debaixo do tapete,
os esqueletos dentro do meu armário,
as unhas cravadas em minhas costas,
as artérias de meu coração entupidas,
de tanto amor...


FETICHISTA (Igor Buys)

Eu admito que sou fácil para um primeiro encontro, difícil para um segundo e quase impossível para um terceiro ou quarto dentro do mesmo semestre.

Confesso que coleciono pequenos troféus; presentes, retratos, uns cacos, uns restos de relação que são, enfim, como uma família de cera num museu embolorado e frio.

Tenho mais fetiches do que poros no corpo e esqueço os nomes das pessoas.

Levo a vida de modo egoísta, de modo hedonista costuro os momentos e tudo é sagrado se é do meu agrado, da cerveja no fim do sol ao livro certo na hora silente. A chuva: preciso ouvi-la a sós comigo mesmo. Relâmpagos me arrepiam, ventos frios me trazem desejos, saudades carnais.

Preocupo-me pouco com os outros. Confesso que amo a solidão com ânimo narcísico; minha curiosidade faz as pessoas mais belas serem sempre as que menos se parecem como as últimas que tive por inteiras.

Entretanto, há os casos mal saciados que o coração e a pele querem reviver em sósias físicas e morais até esgotá-las, de modo que Carinas, Carines, Carolines e Amandas ressuscitam e parecem que são sempre as mesmas, até nos nomes.

Admito que há cheiros que inebriam, enfeitiçam e, no nevoeiro da memória ambarina de uísques e auroras, tais olores são assinaturas seguras de rostos inominados, sem ecos ou brasões de família.


FOGO-FÁTUO (Betty Vidigal)

Olhos esféricos,
emergente luminescência
(alma de fósforo e ferro).

O macio tapete do pântano me pertence.
A escura noite suave
pairando acima dos fogos-fátuos.

Eu conheço o caminho e ele me conhece.
Os pensamentos do pântano são meus pensamentos.
Também em mim os olhos de meus mortos submersos
agridem a noite com seus gritos de luz.


GÁS (Allan Vidigal)

Talvez um poema lhe saia do peito,
Talvez venha a nós, outrossim, do intestino.
Pra mim, o poema biscoito mais fino
É o tal que se faz, não aquele que é feito.

E assim lhe respondo, contesto-lhe o pleito:
Não pode um poema, lhe indago, menino,
Fazer-se por si, prescindir raciocínio,
Nascer como espirro, um arroto ou um peido?

Não pode um poema fazer-se, de fato?
Vir não da cabeça, mas sim das entranhas?
Fazer-se espontâneo, sem truques nem manhas,
Qual faz-se uma bufa, ou um traque, ou um flato?

Nos vir por acaso, acidente, de chofre,
Malgrado o aroma de alho ou de enxofre?


ISAÍAS (Dom Ramon)

"Que me interessa a quantidade dos seus sacrifícios? - diz Javé. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos. Não gosto do sangue de bois, carneiros e cabritos".

Faca, suor, caimbro em depredação e morte.
Pedra de toque e altar, para experção de angústia;
miúda, contrita. Canalha, maldita.
Teu passar só, lento e lívido,
entre essa gente desgraçada, lugar desgraçado;
lagar, de pobres vinhos.

Teu espírito alerta,
e na desgraça clama.
"Não, mas sou".
E de interior, escuro imundo,
escutas tua voz, imunda soturna:

"Sou o demônio, e a própria sombra de demônio,
O Inferno, e o ódio do Inferno.
Ódio, imenso, perpétuo.
Sou tua Sombra, tua carne, tua vida;
sou tua mentira, tua fraqueza, ferida,
sou tua falta de fé,
em ti, desgraçado
e Pecado".

"O empobrecido, que não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não se apodrece; artífice sábio busca, para gravar uma imagem que não se pode mover"


LENTE (Betty Vidigal)

Havia o lado convexo das coisas,. Outrora.
Aves perplexas povoavam nossa intimidade,
por dentro das manhãs passava o dia,
de dentro das manhãs chegava a noite.

Havia serenas águas,
o mar de todas as tardes,
uma arquitetura de silêncio
no lado convexo da cidade.

Atrás das mãos estendidas
as crianças se entendiam,
as moças se entreteniam,
guirlandas se entreteciam
de louros, lírios e rosas.

Havia serenas águas.
havia as tardes amenas.
houve uma fonte escondida.

E num ritmo de brisa,
passava a vida.

O nosso sol de cada dia
crescia os frutos da terra.

Éramos todos fantasmas.

No lado convexo,
éramos o reflexo
transfigurado
do universo.


MEMENTO MORI (Tim Soares)

Acorde Vênus!
Outra manhã prateada
Aguarda-te aqui na terra

Hoje não haverá meninas
Pulando corda na rua
Como nos dias alaranjados

Hoje as bailarinas darão lugar
Aos soldados de metal pesado
Fardados em tecidos escuros

Hoje o fim de outra era
Inicia-se
E você é a convidada de honra.


MEU HD (Lúcia Gönczy)

Cemitério de memórias
fracionadas
diluídas
incineradas
...
por você.


99% DE TRANSPIRAÇÃO (Allan Vidigal)

Poemas escritos com esmero:
aqueles que fazem pensar
no autor acordado até tarde,
cioso do ritmo e do metro,
contando elisões e hiatos,
morrendo de medo de errar,
confuso entre técnica e arte.

(poeta esforçado é um saco).


POESIAS BIODEGRADÁVEIS (Augusto Veras)

No momento
Minha única certeza
Era aquela poesia,
Fluindo no cano
Rumo a distante baia
Palavra a palavra
Vestida em nobre caligrafia
Em papel rasgado em ira
Decompondo-se
Em sua biodegradabilidade,
Pelas quentes, úmidas e escuras,
Instancias recônditas da humanidade
Sob indiferentes retinas e alfaias
De ratos , baratas e lacraias...


POIESIS (Igor Buys)

O meu tempo de ser poeta
É menos o momento de esculpir o hemistíquio
Que o reverso momento de expectorar na vida
A frase que corta, deforma, dilacera e até mata,
Deixando chaga e cicatriz que se não apagarão.

Poiesis é sinônimo de magia, de criação física:
O verbo que gera também desfigura e degenera.

O meu poder de poesia
Está menos em deitar o verso sobre a folha nua
Onde se jacta o semântico líquido da pena
Que em ronronar dizeres sem esboço prévio
No ouvido da amante e engravidá-la de halos.

Eu não rabisco versos de seduzir: clamo amor
A contrapelo nos corpos amados e nos juvenis
corações encrespando-os da alma até os poros.
Depois se é o caso, pinto a óleo o amor vivido.
Não sou poeta de papel: rasgo-me nos refrões.

Com a palavra se sobe ao palanque, se declama
A liberdade, se declara a revolta, se ateia o sol
Dentro da noite. Com a palavra se faz a guerra!

O meu mister de poesia
Não está em silenciar-me na metáfora de bronze,
*Mas em profetizar sobre deserto de ossos secos
E ver surgir do alvor movediço os gládios, a fúria!


PRAGA DE MULHER (Oscar Cravo)

Tomar por maldição praga rogada,
em ódio feminino de abandono,
faz não pregar os olhos, perder sono,
e ver luar romper a madrugada.

Feitiço imantado em bruxaria,
vodu, com mil agulhas espetadas,
sentia que de sangue encharcaria
degraus até descer ao fim da escada.

Exausto, sem forçar a juventude,
que fora passear em meu passado,
não quis condescendência nem virtude

na cura da impotente inquietude,
comi na posição de frango assado
o cu da tua amiga...Ah!...Gertrude.


RETÓRICA (Felipe Rey)

fala pessoal
fala figura
fala tu
falo eu

por que
é nós

porque aqui
o papo é reto
e não oblíquo


ROLETA RUSSA (Rogerio Santos)

Estatística
Estática
astasia tísica
catita titica
tática states
iate tati
tesa teta
seta isca
asta taca
tic
...tec
tic
...tec
tic
...tec
tic
...TÁÁC
cai
.cisa
..cista...estase
....astasia
.....estática
......estatística


SERIAL DREAM KILLER (Rosa Cardoso)

racionalmente insana
maquino tudo

tramas complexas
em que mato visões

serial dream killer
passeio sem rumo

deslizo enredos
nas tuas tramas

filigranas de sol
te desenham
nas curvas da parede

delírios de ocaso
traçados no verso


TE AMEI PRA SEMPRE (Nena Medeiros)

Te amei para sempre
Mas acabou
Parece tolice de se dizer
Mas faz sentido
Quando se trata
De nós dois


TODA A CEGUEIRA POSSÍVEL (Eduardo Perrone)
para o amigo, para o poeta Muryel De Zoppa


Meu olhar se perde
E se despede da vida
Todos os dias
E em todas as estações
Passadas.
Meu olhar
Já não enxerga nada
Além dos Outonos
Vividos.
A lembrança
Nos torna esquecidos,
E as visões do futuro
Um pouco mais tristes.
Toda a cegueira possível
Ainda subsiste
Dentro do grito seco,
Dentro do choro abafado
Que desanuvia
O olhar contemplado
Da velhice
Que chega
De olhos bem abertos.
Nascemos -todos-
Cegos...


VERSOS PÁLIDOS (Tim Soares)

Meus versos pálidos
Agonizam mórbidos
Nas mesquitas dos corações mofados.
Meu rosto é só um rosto
Nessa multidão de faces pitorescas
E almas sedentas de sangue alheio
E eu sou apenas uma célula febril gozando de minha morte-vida!


WELL FUCKED (Flá Perez)

É muito bonita essa coisa de língua e dedo,
todo esse platonismo aflito,
autosatisfazendo o corpo
sem ter nenhuma vergonha ou medo.

Mas me desculpem as meninas
e os senhores que não tem pau:

ele é fundamental.